Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

limbos verdes

limbos verdes

637851D0-6986-4ADF-87FF-D95D9B0444EC.jpeg

EA0AC7FE-7D52-40EA-B4FD-933382065189.jpeg

D6A3E1B9-D80E-4DDC-B903-9D4B4306BE88.jpeg

"A luz mediterrânea, acutilante e brilhante, que nada esconde e tudo expõe, determina, e determinou, que o jardim se desenhasse a partir de um jogo de claro-escuro, o que proporciona ao espaço uma profundidade que a luz forte e metálica de Lisboa não permite, e que o espaço, onde se inscreve o jardim, na realidade, não tem. A água, em movimento ou parada, em conjunto com o sistema vegetal que se lhe associa, apresenta-se pela capacidade refletora que possui, como a matéria subtil que tudo pode revelar."

 

in O Jardim, Fundação Calouste Gulbenkian 

080DD15C-EDA3-4A3D-8F7A-6FFE4261BAEE.jpeg

Um jardim como este, no centro de uma cidade como Lisboa, é mais do que uma 'bolha de oxigénio'. O espaço onde se encontra teve diversas formas- e funções- ao longo dos anos -  Parque de Santa Gertrudes,  Jardim  Zoológico de Palhavã, Feira Popular.


O projecto de António Barreto e Gonçalo Ribeiro Telles foi aprovado no início dos anos 60 tendo a obra começado pouco depois. Várias intervenções foram feitas até chegarmos à forma que conhecemos actualmente, a última delas já nos anos 2000. 
Os vários elementos do projecto compõem  o olhar dos autores:

a água e seus circuitos, o bosque, a orla, os percursos, criam diversos jardins no jardim, onde o romantismo está presente, a dialética entre o lado utilitário- característica da paisagem mediterrânea  - e a visão da ilha dos amores de Camões, onde o visitante faz parte dele, no sentido em que o vive, em que o sente - e de diversas maneiras, ao percorre-lo. 

B1B79E17-D8D7-4F56-9311-6AC1643DA154.jpeg

É assim um espaço onde há uma conversa entra o sol e as sombras, as clareiras de gramineas e o bosque, entre os animais e as plantas, carregadas de bagas. As linhas de água, os espelhos de água, que trazem o céu para o solo, 'olhos luminosos' na escuridão.

03E7178D-7825-4C42-AD8B-2A23B199569C.jpeg

Um apontamento mais pessoal:

conheci o jardim com mais detalhe em 2017.  Em 2020, por estar próximo do hospital Curry Cabral - onde fiz exames e fui operado recentemente - regressei. Uma semana depois da minha última visita, morreu o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. No dia da cirurgia a caminho do hospital, passei ao lado da Gulbenkian. Enquanto andava contemplei uma linha de árvores por ele idealizada, o movimento das folhas. Lembrei-me das 'minhas'  árvores. Senti-me mais em casa e acalmei  um pouco o nervosismo que sentia. Obrigado- também - por isso, arquitecto.

(fotografias: 2020, excepto as últimas quatro que são de 2017)