da vida
[ desde que tomei consciência da doença e inevitável partida da podenga senti que as palavras perderam o sentido, significado, utilidade. para quem, como eu, que tem passado grande parte da vida a interagir com plantas e animais as palavras não serão o fundamental. mas terei de me socorrer delas para fazer este post - apesar de todas as limitações: alguém comunica com as palavras/conceitos interiorizados e alguém escuta a partir de outra experiência de vida, de outra percepção. neste processo de comunicação, por essa e outras variáveis, pode não se concretizar um real entendimento da mensagem que se pretendeu passar.
que mundo maravilhoso este o nosso, esta nossa casa - apesar do sofrimento inerente, a guerra tão presente atualmente por exemplo, é certo. quando observamos os vários planetas conhecidos e quando colocamos a seguir o olhar nesta nossa terra, alcançamos um pouco mais de como especial é este ponto no universo.
quando fazia arranjos de suculentas uma das coisas que tentava concretizar na combinação das plantas, muitas vezes, era a repetição de padrões numa mesma peça -a forma das plantas mas também a repetição das cores. agora percebo que estava a reproduzir características deste nosso mundo, de alguma maneira, naquele novo objeto. este 'organismo vivo' com formas - vivas - tão diversas que se vão repetindo nos mais variados seres. uma que tenho pensado especialmente nos últimos dias é na estrutura da árvore repetida nos nossos pulmões. há uma poesia - magia - tão bela nestas repetições. mas por vezes é-nos difícil ve-las/vivê-las completamente.
outro tema que pensava continuar a explorar , e quem acompanhou os posts destes últimos meses saberá, é a da urgência- quanto a mim - de nos relacionarmos com as plantas também numa dimensão emocional- estar mais consciente do seu papel na -origem da -vida e sentir gratidão por elas. grande parte dos humanos nunca o fará, mas é muito importante que alguns o façam. é através das emoções que nos vinculamos ao outro e as plantas merecem que as tratemos com mais dignidade. por elas e por nós.
queria muito explorar estes temas fotograficamente mas não me será possível- parece-me. de qualquer forma, sinto uma enorme gratidão por ter tido o impulso e a capacidade de concretizar uma série de fotografias neste último ano. trouxeram-me paz, como referi no post anterior.
descobri uma fotografia minha antiga - tenho cerca de 16anos. pensei: o que tenho dele? o que tem ele de mim? não vou responder aqui às minhas interrogações. sei que ele não sabia que poderia ter uma bonita barba com tons ruivos, por exemplo... :) mas torna-se tão claro agora que 'as janelas' várias que vamos abrindo para o mundo exterior abrem/ampliam mundos internos. descobrimo-nos no exterior, no outro, no reflexo que vemos no outro. experimentar coisas várias faz tão bem. vivemos tempos da super especialização, estamos todos tão compartimentados nas nossas áreas, e o cérebro humano é muito eficiente neste tipo de desempenho. mas somos sempre mais alguma coisa. há sempre outras cores, outras nuances interiores que só através de experiências diversas podemos descobrir/aceder/viver.
saborear o mundo, a sua repetição de padrões, tratá-lo bem - ao mundo/ao outro/a nós mesmos. apreciá-lo, amá-lo. contribuir para uma qualquer criação/expansão. ser um, ser unidade - e incomodar-nos menos com o contraste que ele possa ter, que nós humanos possamos ter. saber aceitar a diferença. torna-nos tão mais ricos.
é basicamente isto que queria dizer. nada de brilhante, nem de extraordinário ou novo. pelo contrário: bem mais próximo de vários povos que por cá viveram há muito. sinto-me verdadeiramente grato a quem esteve desse lado. obrigado. 💚
agora vou enfrentar um grande desafio. seja qual for o meu desempenho, será o certo. ]