as vincas, o cipreste e a meditação
à janela - actualizado
intro
para concluir esta série de posts, neste inverno quente - ou pouco frio, vá - em que há papoulas e alcachofras em flor, falar um pouco da minha experiência com a meditação e como ela apurou o meu sentido para o mundo vegetal, mas também foi influenciada por esse mesmo mundo. percebi ao longo do ano que passou que me distrai várias vezes pelo caminho mas que quero, finalmente, viver inteiro no meu sistema de crenças. o que vou a seguir descrever, não será sobre a meditação em si, mas sublinhar a ideia de que estamos todos conectados, todas as formas de vida - das 'janelas' que podemos ou não abrir - e , descrever o meu caso concreto, em que o desenvolvimento da meditação ficou intimamente ligada a uma planta silvestre. falei pouquíssimas vezes e com pouquíssimas pessoas sobre isto, por saber que no fundo a grande maioria das pessoas dificilmente entenderá o que está em causa. mas, cheguei a um sítio onde percebi que não interessa mesmo o que outros pensam. se não entendem não é, efetivamente, um problema meu. não tenho de esconder como perceciono uma serie de coisas. estou consciente que a maioria das pessoas que possam ler este post poderão pensar que sou apenas mais um apanhado da cabeça. mas sabem que mais? não quero saber. eventualmente poderá haver algures alguém que o entenda e que esta informação possa ser importante ou simplesmente útil... mas se isso também não ocorrer, está tudo bem também.
antes da meditação, o coração
a apresentação à meditação surgiu nas aulas de yoga - 1998 - com o meu querido professor/ amigo Pedro Lima Martins. as aulas de yoga sofreram alterações ao longo do tempo. numa fase inicial eram de 40m, depois quase 2h. primeiro no centro de torres, depois ericeira,... no início de cada aula, antes das torções, alongamentos, invertidas, exercícios respiratórios vários, relaxamento, fazíamos sempre o exercício de concentração/introspeção. 5m aproximadamente, focados no ar que entra e que sai das narinas. lembro-me que algumas vezes gostei e senti conforto naquele exercício, na aproximação ao vazio - há uma paz no vazio - mas outras vezes ansiava que aqueles poucos minutos passassem rapidamente. . por vezes, quando éramos poucos alunos -ou apenas eu- o Pedro explicava o mundo, de forma muito simples, as suas polaridades - apesar de ele as descrever como algo inerente à vida - humana -sempre o percebi como se ele as transcendesse. entendi depois a razão: ele estava na frequência do coração, onde não há dualidade. ouvi-o durante anos falar desta forma de agir/estar/ser quando os vários nossos corpos - físico, mente, emoções- estão unidos no mesmo propósito/entendimento - é no fundo o objetivo do yoga. finalmente, neste ano que passou, percecionei o verdadeiro alcance do que isso significa, do poder criador que está subjacente nesta frequência. e quando aí se chega a conexão com formas de energia/informação é imediata. e dessa - e doutras - perspetivas, este ano que passou foi maravilhoso. habituei-me/formatei-me a perseguir esta frequência ao longo dos anos. não é por acaso que os meus olhos tornaram-se numa espécie de scanner para detetar a forma/símbolo do coração - utilizado vezes sem conta comercialmente, até por mim próprio, é verdade, mas tentei fugir da pirosice e usa-lo com simplicidade - como podem confirmar no coração nas mãos de uma amiga na imagem acima - e não imaginam os mais diversos locais onde reconheço esta forma : folhas, buracos no alcatrão, terra, marcas do tempo nas paredes, nuvens, fósseis, entre pedras numa calçada, ... e por aí vai. não tanto devido a alguma visão de relação romântica - habitualmente as pessoas associam-na à forma do coração - mas porque vi como é viver fora da dualidade, da polaridade. a mensagem que durante semanas/meses tentei passar nos posts #layers-porque é domingo, era precisamente essa, embora de forma subtil. perseguir a frequência do coração. destapa-lo, remover camadas, vivê-lo. e isso é um trabalho individual, de relação connosco mesmos acima de tudo e só depois com o outro, com o mundo.
é curioso. quem já experimentou meditar sabe que, apesar da simplicidade aparente da proposta, o segredo para que haja progresso na meditação é voltar sempre ao foco inicial - concentração na respiração, no som, ...- isto pq a mente tem imensas estratégias para não ser 'controlada'. quando iniciamos estes processos surgem pensamentos cada vez mais estimulantes/inteligentes ou sentimos fome, sono, etc - e aqui não coloco as meditaçoes guiadas pois funcionam de forma diferente... - mas, o que dá verdadeiro poder à mente é quando os pensamentos estão alinhados com as emoções.quando somos nós que a controlamos e não ela que nos controla. quando usamos o nosso eu consciente para ajustar o nosso sistema de crenças - usando programas para o nosso subconsciente, que sabemos que serão úteis - aí sim, as probabilidades desses pensamentos -alinhados emocionalmente - se concretizarem/manifestarem aumentam verdadeiramente .
cada vez mais acho que a mente deve ser usada menos vezes - e de melhor forma - para dar espaço a outras dimensões que também são nossas. e isto tem tudo a ver com a frequência do coração e de como la se chega.
conchas fossilizadas que encontro frequentemente por aqui. identifiquei a forma de coração, como tantas vezes sucede e como estas imagens comprovam - mas existem muitas mais
um livro e um documentário sobre meditação:
"os níveis maciços de actividade gama nos iogues e a sincronia das oscilações gama ao longo de alargadas regiões no cérebro sugerem a vastidão e a qualidade panorâmica da consciência que traduzem. a consciência dos iogues do momento presente - sem ficarem agarrados à antecipação do futuro nem à ruminação do passado (...) também indícios neuronais de uma concentração sem esforço: é apenas necessário uma centelha do sistema de circuitos neuronal para pôr a atenção em determinado objeto e pouco ou nenhum esforço para aí a conservarem. finalmente, quando geram compaixão, os cérebros dos iogues tornam-se mais conectados aos seus corpos, em particular aos seus corações- o que indica ressonância emocional."
encontram neste livro muita informação sobre o impacto da meditação no aumento da neuroplasticidade, como as diferentes partes do cérebro comunicam melhor entre si com estas práticas, a relação a melhoria significativa do sistema imunitário por exemplo, a capacidade de aprender... embora deva haver no mercado livros com estudos mais actuais - in traços alterados, a ciência revela a forma como a meditação modifica a mente, o corpo e o cérebro
"vipassana é uma viagem de conhecimento feita com os olhos fechados. o objetivo não é satisfazer a curiosidade dos viajantes. mas ser transformado por ela e começar a viver uma vida melhor. vipassana significa dentro, ver as coisas como elas realmente são em sua verdadeira natureza. é uma técnica antiga de meditação descoberta há 25 séculos na Índia por um homem chamado sidarta gautama conhecido por buda. os registos históricos do tempo de buda contam incríveis histórias entre elas a história de assassinos que se transformaram em santos e de pessoas cruéis que se tornaram pessoas exemplares pela prática desta técnica. com a passagem do tempo, civilizações se ergueram e pereceram mas a vipassana foi preservada."
in tempo de espera, tempo de vipassana
as vincas
depois de vários anos a fazer yoga - com interrupções- e a fazer alguns minutos de concentração/introspeção, chego a 2016. começo a redescobrir as plantas silvestres até que passo uma tarde num pequeno ribeiro cheio de vincas em floração - elas adoram humidade, sombra, frescura. passei horas fascinado com a abundância das flores.por vezes percebemos quando as plantas estão/são felizes e estas vincas eram-no. a cor do verde das folhas, a quantidade de flores a cintilar luminosidade com esse verde intenso ao fundo... com o som da água a passar no ribeiro. a forma da flor, simples, ficou registada em diversas fotografias mas principalmente na minha mente. ao fim do dia sinto uma enorme vontade de fazer o tal exercício de concentração. sento-me e começo a focar-me na respiração. contava ficar por ali uns 5 a 10m. mas, muito rapidamente, senti um nível de concentração tão forte que não consegui parar. senti uma consciência da respiração, do oxigénio a chegar ao meu cérebro como nunca até então. senti o seu poder de tal maneira que os meus pensamentos e emoções recuaram. fiquei naquele estado durante quase 2horas. depois desse dia passei a meditar 1h/dia, durante vários anos. eu, a respiração, o foco, e os muitos pensamentos e emoções que iam passando. associei a capacidade de me focar com o contacto com as vincas - quem já experimentou, sabe que passar de um exercício de 5m de concentração para quase 2h, não é um alteração pequena. terá sido da forma da flor onde fixei o olhar tantas vezes naquela tarde, ou terá sido da vibração/frequência da planta? ou ambas? não sei responder. nem tenho como associar racionalmente a vinca com a forma profunda como passei a meditar a partir desse dia, mas sei que há uma correlação. senti-a de forma tão clara. a partir desse ano, passei a intuir que as formas geométricas da natureza/plantas podem comunicar connosco, mesmo que não tenhamos disso consciência, 'podem abrir janelas/portas' que outrora estariam fechadas. não o posso demonstrar, mas tenho esta forte convicção. (mas não é tudo... ainda falta falar do cipreste.)
o cipreste
depois desta experiência, passei a meditar diariamente, algumas vezes em casa ao fim do dia, outras no campo. fazia um intervalo durante o dia, e meditava perto de diversas plantas no meu terreno. muitas vezes a 2 metros do primeiro cipreste que por lá plantei - nesta altura há uns 18 anos. numa das vezes, estava a meditar há perto de 10m, quando uma qualquer 'janela/porta' de perceção se abre em mim. comecei a sentir ondas de energia, vindas do cipreste, sempre na mesma cadência - lembrou-me muito o ritmo de um batimento cardíaco, embora diferente. não sei descrever o que senti... se por um lado foi algo que não contava sentir, por outro estava preparado para ter aquela experiência. e, não tenho de me justificar, mas não tem nada a ver com emoções que sentimos no nosso corpo. aquilo era muito claramente uma energia exterior a mim que vinha na minha direção e batia no meu corpo - ao longo do meu tronco. as lágrimas começaram a cair pelo meu rosto. durante vários minutos fiquei a sentir o meu cipreste de uma forma completamente diferente e mais profunda, 'verdadeira', se é que faz sentido usar esta palavra. a partir desse dia fiquei com a convicção que as plantas vibram numa determinada frequência - bem, já sabia dos florais de bach e outros . a sua energia está por aí. nós é que podemos ou não - baixar o nosso ritmo e - dar por ela. durante estes vários anos guardei esta e outras experiências para mim - salvo raríssimas exceções - até agora. se o leitor considerar isto absurdo, não tem mal. sei bem o que percecionei nesse e noutros dias depois.
hoje
cheguei a um ponto de equilíbrio, com a meditação, em que pratico entre 2 a 3h/dia, habitualmente divididas entre a manhã e a noite. retomei há cerca de 1ano, na altura uns 20m diários complementados com exercícios respiratórios e, à medida que o tempo foi avançando, aumentei a duração das sessões e fiz alguns outros ajustes - o tipo de meditação que aprendi a fazer aproxima-se da vipassana mas inclui outro tipo de meditações, algumas guiadas. posso dizer que este processo foi tão importante para aqui chegar. vinha de um sítio com vários medos - fazer um pequeno à parte: a 6 de novembro 2020 fui operado, passei o resto do mês com complicações/dores/antibióticos. nos meses seguintes com muita dificuldade de me conseguir libertar dessas memórias várias- de poder ficar de novo com uma parte deformada. só a meio do ano voltei a sentir-me confortável com o meu corpo, sem necessidade de fugir dele, de o evitar. falo disto não para me vitimizar, pelo contrário. sinto-me a celebrar a vida - corpo incluído. entretanto, esta prática diária trouxe-me uma série de alterações: deixei de consumir produtos televisivos 'wrong doing'/séries true crime -, passei a dormir como nunca dormi antes, nem em bebé dormi tão bem, tinha há mais de 15 anos diagnosticada uma hérnia que desapareceu nestes últimos meses... para além de outras alterações, uma delas é sentir-me conectado com o mundo vegetal de forma ainda mais profunda. fico por vezes com um certo feeling de ' ahh porque me distrai tantas vezes nestes últimos anos? porque parei de meditar imediatamente antes dos confinamentos/pandemia? isto e aquilo poderiam ter corrido de outra forma e tal...' mas todas estas questões são inúteis. o importante é o 'hoje' e eu gosto muito deste 'hoje' e sei que vou gostar mais ainda dos 'amanhãs' que estou a construir.
[como não estar grato por esta sensibilidade que me permite ver/sentir tanta beleza viva?]
recentemente encontrei estas 'pinturas'/colagem que fiz há mais de 20 anos, quando comecei a integrar novas formas de me perceber- no mundo. é embaraçoso mostrá-las, porque não tenho aptidão nenhuma para isto. mas tem tudo a ver com o momento presente e com o post. em cima à direita os 3 primeiros centros energéticos: uma espécie de túnel que os une.e um coração que está em tratamento, eventualmente para se conectar com a vida vegetal. - muito curioso ter encontrado isto porque, finalmente agora, com a prática que tenho mantido sinto a energia a circular nestes vários centros. e, nunca tanto como agora, o coração conectado com outras formas de vida/energia/informação. mas a vida nunca é sobre chegar a algum sítio. a vida é sempre sobre o 'trilho' o caminho que se está a percorrer num dado momento- presente/agora - e, principalmente, como o fazemos/percorremos.
estou convencido que apesar de ser pouco comum - nas sociedades ocidentais- haverá outras pessoas que sentem a energia das plantas/natureza de forma semelhante. estas perceções que alguns têm demoram a ser entendidas pelas maiorias e, antes delas, pela ciência. tanto a cientista Suzanne Simard como o engenheiro florestal Peter Wohlleben, no documentário árvores inteligentes - 2016 -dizem isso mesmo: muitas das descobertas científicas sobre a comunicação/cooperação das árvores já era por eles intuída. para aprofundar o conhecimento científico sobre estes seres verdes, já se percebeu que vale a pena ter em conta as informações vindas de certas tribos/comunidades que vivem intimamente com a natureza.
mas, muito honestamente, mais importante do que o conhecimento em si, que a ciência um dia terá sobre a natureza da natureza, mais importante, repito, é:
vive-la, senti-la, se-la - é ser ativamente natureza, e não um mero espetador.
(...)
sim, as janelas são aberturas, estradas, portais, ... disponibilidade...são viagens a mundos que desconhecíamos antes de as abrirmos.
até breve
e
tune in
actualizado a 4/fev
"os humanos fazem parte do mundo natural, é onde tudo começa e acaba."
[quando regressar vou voltar aos posts curtos onde me sinto mais confortável, não era suposto ser assim ...]