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limbos verdes

limbos verdes

18 Dez, 2021

o rosto da terra

ou o pavimento deste t0

 

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dei por este sítio em 2016/7. são vários os hectares de mata densa, com algumas clareiras, que envolvem o castro. vivia em lisboa ainda mas trabalhava já no meu terreno a menos de 1km. quando aqui vim pela primeira vez. foi o enquadramento da ribeira - de pedrulhos- que me chamou a atenção nesses primeiros momentos. imagem acima.

no livro memorial do convento, os personagens principais, a caminho de mafra, param nas margens desta ribeira. o contentamento que trazem é tal que vivem ali embaixo o seu amor rodeados pela beleza da vegetação, a agua límpida da ribeira passa pelas pedras e assiste, e eles, tão conscientes do paraíso onde estavam, recusam destruir uma única flor sequer. não sei em que parte da ribeira o autor pensou quando escreveu esta passagem, mas imagino-a sempre aqui, no local visto desta clareira, desta espécie de t0. 

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antes de chegar à clareira propriamente dita há este trilho, também ele rico em flores silvestres.


muitas das plantas/flores que aqui trago, hoje, já surgiram noutros posts, com mais ou menos detalhe. mas este post é sobre o ano a passar nestes metros quadrados, neste solo. queria dizer-vos uma coisa, que alguns terão presente e outros não: quando passamos num local como este, numa determinada altura do ano, o que vemos naquele momento não é tudo o que a terra tem para nos dar. há um número de sementes muito superior, às plantas visíveis, que está adormecido e virá à superfície na altura certa, com as condições certas - temperatura, horas de exposição solar, humidade. e isso é muito percetível aqui porque o crescimento dos vários géneros  é abundante. então, fica gravado na memória- e/ou em imagens- essa abundância das florações associada às diferentes estações do ano.  na minha cabeça visualizo/imagino imagens recolhidas - time lapse- de várias câmaras fixas - ao longo do ano -  com o desenvolvimento de cada uma das diferentes plantas, desde o primeiro par de folhas até à floração, à formação  de sementes, e depois ao aparecimento de outro género e depois outro e outro. 

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do inverno ao outono são diversas as plantas que aqui crescem, preenchendo o solo com diferentes cores e formas: 

narcissus bulbocodium; bellis perenis; romulea bulbocodium; campanula rapunculus; lobularia marítima; saxifraga granulata; pulicaria;  funcho; allium;  briza maxima e minima; cistus; prospero autumnale; acis autumnalis.

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as estações ficam aqui marcadas, abundantemente, por estas plantas, embora todas as mencionadas anteriormente marquem a sua presença : 

inverno: narcissus bulbocodium

primavera: trifolium stellatum 

verão: erygium

outono: prospero autumnale e acis autumnalis

 

volto a esta reflexão muitas vezes e ela ocorre-me porque, de certo modo,  sou um privilegiado. ela surge no meu espírito porque tenho contacto com estes e outros metros quadrados., onde o rosto do planeta se revela, onde ele ainda 'tem a liberdade' de se 'mostrar':


- que seres seríamos se esta área fosse multiplicada pelo país? 
- que indivíduos/ comunidade seríamos se estes seres silvestres aparecessem nas tv's, fossem falados e mostrados nas escolas? 
-que seres seríamos se absorvêssemos a sua beleza diversa ao longo do ano, a real expressão... do planeta que habitamos? 

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algures neste espaço cresceu, nos últimos anos, um único pé desta orquídea- a primeira do género   ophrys -tenthredinifera - a crescer nesta zona. este ano que passou não rebentou... não sei porque razão. quem acompanhou por aqui as várias orquídeas silvestres que encontrei este ano, poderá pensar que são muitas, mas o seu habitat é muito frágil e facilmente poderão desaparecer.

 
 
 
li.ber.da.de
 
libərˈdad(ə)
nome feminino
 
1.
condição do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza
2.
direito que qualquer cidadão tem de agir sem coerção ou impedimento, segundo a sua vontade, desde que dentro dos limites da lei
3.
FILOSOFIA capacidade própria do ser humano de escolher de forma autónoma, segundo motivos definidos pela sua consciência
4.
livre arbítrio
5.
estado de quem não está preso, detido ou em cativeiro
6.
POLÍTICA condição de autodeterminação de um povo ou de uma nação; estado do país que não está dependente de um poder estrangeiro
7.
ausência de restrições ou constrangimentos
8.
estado de disponibilidade
 
(...)
 
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concluir o post com a visão que temos quando, neste local, nos viramos para oeste - a ribeira de pedrulhos  atravessa a aldeia onde vivo, com o mesmo nome,  mistura-se com o rio sizandro e alguns kms depois chega ao atlântico- à praia azul- e, também, com a ideia de liberdade: a nossa, de vivermos estes tesouros, que a terra nos oferece gratuitamente, de os saborearmos com o olhar e com o espírito- e com responsabilidade, como os personagens de saramago. mas também a liberdade da terra - vegetação- existir, de se manifestar, através desta vida que está adormecida em si e vai acordando - mostrando o seu rosto- ao longo do ano. 

boas festas. 
 
 

*home

home

adjective
  1. 1.
    relating to the place where one lives.
    "I don't have your home address"
    • 2.
      (of a sports fixture) played at the team's own ground.
      "their first home match of the season"
      • adverb
        1. to or at the place where one lives.
          "what time did he get home last night?"
          verb
          1. 1.
            (of an animal) return by instinct to its territory after leaving it.
            "a dozen geese homing to their summer nesting grounds"
            • 2.
              move or be aimed towards (a target or destination) with great accuracy.
              "more than 100 missiles were launched, homing in on radar emissions"

 

 

2 locais, com grupos  de zambujeiros,  onde gosto de ir e ficar. na verdade, apesar de serem formados por diversas árvores, devem funcionar como uma única entidade/ser  vegetal. gosto de seguir com o olhar os troncos, da base até ao topo, tentar perceber como se relacionam entre si - o tempo de vida delas vai ficando registado. há, também por isso, muita informação  naquelas 'estruturas ' - e ficar, depois, por ali,  numa quietude... por vezes conseguimos ouvi-las/ senti-las verdadeiramente. recomendo muitas tentativas. :) 

 

 

casa = segurança; conforto; confiança; quente; suave;  fácil; fluido; abertura; flexível; contentamento, criação; conexão; ... 

[ hoje, quando me dirigia para este local - pertinho do castro do zambujal- de máquina fotográfica  de plástico - diana f- no pescoço e tripé no ombro fui percebendo que não seria possível fazer as fotografias em modo pinhole que queria/quero fazer: não fazia vento algum, o que é pouco comum por estes lados. o vento que traz e leva coisas - sementes, por ex - quero capta-lo. mas ele voltará. passei por um vizinho que, embora não entenda como esta máquina funciona e como faço múltiplas exposições no filme -mostrei-lhe algumas fotografias e mantem-se irredutível que uso uma app. por mais que lhe diga que não, não acredita - sorri sempre por ver o meu entusiasmo com as fotografias e com a máquina. 

 

no último vídeo: alguns dos zambujeiros - antes da subida para o castro do zambujal. os que mencionei num recente post. é bem visível agora as marcas das podas radicais e dos fogos. nos anos 1980 era comum incendiarem esta zona - devido à caça. não filmei todos eles com marcas de fogo, mas penso ser mais percetível entender a que me referia la atrás.há vários meses fiz um pedido, em modo tuite, de limpeza na zona precisa onde estes zambujeiros estão. o meu pedido foi atendido. continuarei, portanto, a pedir/desejar coisas outras ]

 

 

10 Dez, 2021

elas - e nós

 

nao são plantas/flores/vídeos bonitinhos os que aqui partilho neste post. não é esse o ponto. o ponto é apenas demonstrar o que está por todo o lado, tanto nas 3 ruas onde círculo aqui na aldeia como em qualquer canto de qualquer cidade: plantas diversas, já fornadas, nos pavimentos, paredes, ... preparadas para crescer. plantas muito bem adaptadas a oscilações climáticas, ao contrário de nós. 
estamos convencidos que controlamos tudo. não controlamos.. lamento informar. o planeta é delas. estão 'everywhere' preparadas para crescer. aprender a viver com elas e não contra elas, é o grande 'desafio' dos 'agoras' - de hoje, de amanhã. até porque estar contra elas é estar contra nós próprios. é um tema que quero fotografar em breve. por agora ficam estes pequenos vídeos.